A cerimônia religiosa começou ao meio-dia (horário local) no Grande Teatro Nacional de Lima, junto ao Ministério da Cultura peruano, onde desde quinta-feira (12) milhares de simpatizantes desfilaram em frente ao caixão do ex-presidente. A sala de 1.500 lugares foi reservada apenas para membros da família e pessoas próximas a Fujimori, reunidos diante de um altar cercado por coroas de rosas brancas e um retrato do ex-presidente. “Chino, Chino”, cantavam os presentes, usando o apelido do ex-líder, nascido no Japão.

Do lado de fora, centenas de simpatizantes e correligionários acompanharam a cerimônia em um telão gigante. Muitos carregavam fotos do ex-líder. “Vamos perpetuar o seu legado, porque o fujimorismo nunca morre, ficará na história”, disse Edgar Grados, um comerciante de 43 anos que viajou mais de 100 quilômetros para prestar as suas últimas homenagens ao ex-presidente.

O ex-homem forte peruano morreu de câncer na quarta-feira (11), aos 86 anos, em sua casa em Lima.

No país andino de 32 milhões de habitantes, Alberto Fujimori marcou a história recente ao combater guerrilheiros maoístas, mas também enfrentar peruanos profundamente divididos. Para alguns, ele continua a ser o homem que impulsionou o crescimento econômico do país através das suas políticas ultraliberais e lutou com sucesso contra as guerrilhas do Sendero Luminoso (maoista) e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (guevarista).

Após a sua vitória no Sendero Luminoso e a prisão de seu líder, Abimael Guzman, a revista americana Time nomeou Fujimori personalidade sul-americana do ano de 1993.

Métodos autoritários

Já outros recordam principalmente os escândalos de corrupção e de seus métodos autoritários. O ex-líder foi condenado em 2009 a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade, especialmente por dois massacres de civis cometidos por um esquadrão do exército como parte da luta contra o Sendero Luminoso, nos primeiros anos da década de 1990: um no bairro de Barrios Altos. (15 mortos incluindo uma criança) e outro na Universidade de Cantuta (dez mortos).

Em 1992, Alberto Fujimori foi processado pelo assassinato, por soldados, de seis camponeses suspeitos de estarem ligados ao Sendero Luminoso.

O conflito interno das décadas de 1980 e 1990 deixou cerca de 69 mil mortos e 21 mil desaparecidos no Peru, a maioria civis, segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC).

Após 16 anos de prisão, Alberto Fujimori foi libertado por ordem do Tribunal Constitucional “por razões humanitárias”, apesar da oposição do sistema de Justiça interamericano. Ele havia sido hospitalizado diversas vezes nos últimos anos, após o diagnóstico de um tumor maligno na língua e no pulmão.

O ex-presidente surgiu na cena pública em 1990 com uma inesperada vitória eleitoral sobre o escritor Mario Vargas Llosa, futuro vencedor do Prêmio Nobel da Literatura.

Sua filha, Keiko Fujimori, assumiu a herança política do pai, mas fracassou três vezes no segundo turno das eleições presidenciais. Ainda em julho, Fujimori havia considerado uma tentativa de retorno nas eleições de 2026, segundo a filha.

Por ocasião do seu 80º aniversário, em 2018, Fujimori disse à AFP: “Deixe a história julgar o que fiz bem e o que fiz mal”.

A queda do político começou em 2000 devido a um escândalo de corrupção. Ele refugiou-se no Japão, seu país natal, e renunciou por fax. Lima passou anos tentando, em vão, convencer Tóquio a extraditá-lo. Depois de uma longa batalha judicial, foi finalmente o Chile, para onde havia ido em 2005, que o extraditou, dois anos depois.