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Campina Grande, Paraíba,23/09/2024

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Produção de camarão alcança R$166,6 milhões na Paraíba e garante sustento para pequenos produtores

A carcinicultura se tornou fonte de renda sustentável com a utilização da água do Rio Paraíba

Com assessoria
Produção de camarão alcança R$166,6 milhões na Paraíba e garante sustento para pequenos produtores @Internet

Presente em pratos simples e nos mais sofisticados da culinária mundial, o camarão se tornou sustento para as famílias que residem nas regiões da Zona da Mata, Brejo e Agreste da Paraíba. A fonte de renda é praticada em 36 municípios da Paraíba e bateu recorde na produção, com 8,2 mil toneladas do crustáceo em 2023, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção de camarão no estado totalizou R$166,6 milhões no ano passado. 

Os dados colocam a Paraíba como o terceiro maior produtor de camarão do país, atrás apenas do Ceará (72,7 mil toneladas) e do Rio Grande do Norte (24,7 mil toneladas). Os municípios paraibanos considerados os maiores produtores do crustáceo, em 2023, foram: João Pessoa, com 1.700 t; Santa Rita, com 955 t; Mogeiro com 800 t; São Miguel de Taipu, com 750 t; e Salgado de São Félix, com 600 toneladas. 

As cidades que também se destacam na produção no estado são: Itabaiana, Itatuba, Pilar, Baía da Traição, Marcação, Caaporã, São José dos Ramos, Gurinhém, Rio Tinto, Mari, Caldas Brandão, Lucena, Guarabira, Mulungu, Barra de São Miguel, Ingá, Sobrado, Araçagi, Riachão do Poço, Pirpirituba, Cuitegi, Juripiranga, São Bento, Alagoinha, Belém, Cacimba de Dentro, Borborema, Itapororoca, Coremas e Bananeiras. Esses municípios produziram juntos 34,1 toneladas do crustáceo em 2023.

De acordo com o engenheiro de Pesca e presidente da Associação de Criadores de Camarão da Paraíba (ACPB), André Jansen, a produtividade do quilograma por hectare chega a 45 toneladas de camarão por ano. Essa produção vem de quase 900 criadores que mantêm, em sua maioria, pequenas “fazendas”, como são chamadas os criatórios.

A produção do crustáceo, tornou-se uma atividade sustentável na região, já que a água do Rio Paraíba utilizada nas "fazendas", não é propícia para o consumo humano, por ser salobra. Pelo contrário, a salinidade que a água apresenta é ideal para esse tipo de atividade.

O camarão produzido no estado é do tipo cinza, que suporta uma salinidade de 0 a 80, ou seja, pode ser criado em água doce ou muito salgada. Mas para exercer a atividade é necessário que o produtor tenha muito conhecimento sobre o manejo desse crustáceo. As fazendas devem ser monitoradas diariamente para verificação da temperatura e salinidade da água e assim definir os nutrientes necessários para aplicação.

A oscilação muito brusca da temperatura ambiente também influencia no desenvolvimento do crustáceo. Por isso, a criação do camarão é uma atividade considerada de risco devido à alta probabilidade de infecção por vírus, já que o crustáceo não tem o sistema imunológico bem definido. Sendo essa uma das principais preocupações da ACPB com os pequenos produtores, levando em consideração que a falta de cuidados de manejo nas pequenas fazendas pode acarretar prejuízos no desenvolvimento e na qualidade do camarão. 

“Esse ano a água do Rio Paraíba não chegou a 30 graus e a temperatura ideal deve oscilar entre 27 e 30 graus. No momento está ocorrendo uma oscilação de temperatura muito grande, pela manhã está muito frio e a noite está muito quente essa curva abre brecha para viroses. Essa mudança de temperatura muito drástica prejudica o crescimento do camarão podendo ocasionar doenças, por isso é tão necessário que os proprietários das fazendas sejam capacitados para que façam o manejo de forma correta”, explicou André Jansen.

De acordo com Jansen, a Associação foi criada em 2017, justamente para organizar e ajudar os pequenos produtores a produzirem um camarão de boa qualidade e saudável. Junto à associação foi realizada uma parceria com o Sebrae-PB, para realizar capacitações e seminários para os que queriam começar ou orientar os que já estão na atividade e querem melhorar sua produção do crustáceo.

 

“Na Paraíba existem micro pequenos produtores de camarão, que fazem viveiros com apenas mil metros quadrados. Muitos deles começam para testar a produção, mas também tem outros associados com mais de 50 viveiros em apenas três hectares, por isso conseguimos uma produção tão alta”, frisou.

Um desses produtores é o Alberto Magno que tem duas propriedades com criação de camarão na cidade de Salgado de São Félix. Este ano ele lançou o primeiro produto industrializado e certificado da região do Vale do Paraíba. A pretensão é expandir a venda do produto para todo Brasil.

“Fazemos o beneficiamento em Cabedelo e voltamos com o produto já congelado para a cidade de Salgado de São Félix. Essa medida foi tomada quando percebemos a dificuldade na venda do camarão, pois teríamos sempre que vender ao atravessador que comprava na nossa fazenda e levava para vender na feira livre ou para beneficiar. Agora fazemos todo o processo e vendemos para alguns clientes como pizzarias, restaurantes, casas de comida oriental e queremos expandir para supermercados em São Paulo”, comentou.

Custo 

Uma das vantagens de criar o camarão é que ele pode ser produzido o ano inteiro, além de ter um desenvolvimento muito rápido, em apenas 90 dias o crustáceo atinge 10 gramas e está pronto para venda e consumo. Mas para chegar no tamanho e gramatura ideal, os produtores devem ficar atentos ao manejo correto e para isso tem o auxílio de alguns equipamentos necessários para atividade e que já são vendidos no mercado.

Alguns desses equipamentos são os alimentadores, que são programados para colocar a ração nos viveiros. O vendedor Erivaldo Delmiro, da empresa Trevisan, localizada no estado do Paraná, comercializa os equipamentos na Paraíba. Além dos alimentadores, a empresa trabalha com diversos equipamentos utilizados para criação de camarão e peixe. Delmiro ressalta que a automação das fazendas contribuiu para diminuir o custo e tempo de produção, além de melhorar o crescimento do camarão. 

“Nosso alimentador à energia solar tem um silo para 120 quilos de ração, com capacidade para atender um hectare, algumas fazendas utilizam dois alimentadores por hectare. Ele tem duas possibilidades de programação analógica com um timer, a digital por meio de um aplicativo ou pode ser gerido por uma central que comanda vários alimentadores que estão à distância de até 15 km. O funcionamento pode ser nos sete dias da semana, disparando a ração no viveiro de 5 a 20 vezes por hora”, explicou.

Os equipamentos chamados alimentadores podem custar entre R$11 mil e R$12 mil. Outros equipamentos necessários para uma boa produção de camarão são os aeradores que servem para oxigenar, estratificar e homogeneizar a água dos viveiros e podem custar entre R$700 e R$7 mil, dependendo do modelo e marca.

“Esse equipamento é muito utilizado quando é verificado que a temperatura da água está quente em cima e fria em baixo, por exemplo. O aerador serve para incorporar e homogeneizar essa água. O equipamento também é utilizado na indústria para tratamento de água e beneficiamento de peixe”, detalhou Erivaldo.

Mas para começar uma produção de camarão os produtores precisam investir na compra das larvas do camarão, que de acordo com o presidente ACP), André Jansen, são adquiridas no Rio Grande do Norte. 

“De início, a cada um metro quadrado podem ser colocados 70 larvas de camarão. Essas larvas são adquiridas em sua grande maioria no Rio Grande do Norte e têm um custo em torno de R$12,00 R$13,50 o milheiro. Já o preço do camarão final de 10 gramas chega ao valor de R$13,50 o quilo”, disse André.

A atividade, segundo Jansen, tem um custo mais alto no início, mas tem retorno a curto prazo pois com apenas 90 dias se tem camarão pronto para ser comercializado. Outro custo preocupante para os produtores, além da compra das larvas, são a energia gasta para manter ligados os equipamentos como o aerador. Uma das vantagens já garantidas aos produtores certificados é a gratuidade do ICMS e uma tarifa irrigante de valor menor no horário das 21h às 6h. 

Industrialização

Uma das dificuldades enfrentadas pelos produtores da carcinicultura na Paraíba é a falta de uma indústria para o processamento do camarão para que o produto seja congelado e vendido por um valor mais atrativo. Nesse intuito, foi criada a Cooperativa dos Criadores de Tilápias e Camarões do Estado da Paraíba, também presidida por André Jansen.

Uma das medidas para buscar preços mais altos foi a doação de um terreno para o município de Itabaiana para implantação de uma usina de beneficiamento do camarão. O terreno foi doado pelo Governo da Paraíba por meio da Secretaria de Desenvolvimento Humano. E recursos estão sendo aguardados para a construção do local, onde todo o camarão produzido no estado poderá ser processado e ficará apto para ser vendido em todo o país.

“O processamento retira o camarão fresco do mercado, aquele camarão que o produtor precisa vender a qualquer preço, senão ele perde, além de ter um camarão de qualidade ruim. Hoje a Paraíba não tem indústria, o que é produzido aqui é processado em Pernambuco”, explicou Jansen.

Merenda escolar

Junto aos produtores da Associação de Criadores de Camarão da Paraíba e às prefeituras, o camarão está sendo inserido no cardápio da merenda escolar dos municípios de Itabaiana, Juripiranga, Mogeiro, Salgado de São Félix e João Pessoa. No próximo ano, o crustáceo deve ser inserido na merda escolar das escolas estaduais. 

“Pegamos o exemplo de Sergipe por exemplo, que o camarão e o marisco são incluídos na merenda escolar. Itabaiana é a primeira cidade a colocar o camarão nas refeições dos estudantes e estamos lançando em Salgado de São Félix. No Vale do Paraíba praticamente todas as prefeituras estão incluídas no projeto. Para as escolas da rede estadual o projeto vai ser iniciado junto às escolas da 12ª Gerência Regional de Ensino (GRE). 




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