Morre, em Brasília, cineasta paraibano Vladimir Carvalho, aos 89 anos
Um dos mais importantes documentaristas brasileiros, Vladimir Carvalho é o guardião da memória e da história do cinema nacional
O cineasta Vladimir Carvalho, um dos maiores nomes do cinema brasileiro, morreu em um hospital de Brasília, na manhã desta quinta-feira, (24), aos 89 anos, em decorrência de um infarto e problemas renais.
O velório será realizado no Cine Brasília, nesta sexta-feira (25). Seu sepultamento ocorrerá, também, na capital federal.
Natural de Itabaiana, na Paraíba, nascido em 1935, Vladimir Carvalho construiu uma carreira notável, com mais de 10 documentários que abordam temas fundamentais da política e da história do Brasil.
Entre suas principais produções estão O País de São Saruê, O Itinerário de Niemeyer, José Lins do Rego, O Evangelho Segundo Teotônio, Barra 68 e Conterrâneos Velhos de Guerra.
O País de São Saruê, foi censurado pela ditadura. O filme narra as secas da região do Rio do Peixe, no Sertão da Paraíba.
Vladimir iniciou sua trajetória em João Pessoa. Foi aluno de Linduarte Noronha, com quem colaborou em 1954 como assistente de direção na obra Aruanda — filme que até hoje é considerado um dos mais importantes para a história do cinema paraibano.
Mais tarde, transferiu-se para Salvador, onde se envolveu com o Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE e conheceu figuras importantes como Glauber Rocha, integrando o movimento do Cinema Novo.
Na década de 1960, Vladimir se destacou como documentarista ao trabalhar com Eduardo Coutinho no filme Cabra Marcado Para Morrer.
Durante o golpe militar de 1964, precisou entrar na clandestinidade para se proteger, mas continuou a produzir filmes, como Romeiros da Guia. Depois, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, cobrindo momentos importantes da resistência contra a ditadura.
Já em Brasília, Vladimir estabeleceu sua carreira como professor. Ele fundou a Cinememória e foi reconhecido como uma das grandes figuras do cinema documental brasileiro, recebendo homenagens como o título de Cidadão Honorário de Brasília e a nomeação como embaixador cultural do Distrito Federal.
Em 2015, Vladimir Carvalho foi homenageado na abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Cine Brasília. Na ocasião, ele declarou todo o amor à capital e ao cinema: “Desembarquei em Brasília em 1964, entrei por essa porta [do Cine Brasília] com meu filme, e isso resultou numa aventura de 45 anos. Vim para ficar dois meses, e já estou há 45 anos. Não dá pra ficar aqui com hipocrisia, com falsa modéstia. Digo com toda sinceridade, sem pudor, e com humildade: eu mereço, Brasília! Obrigado!”
Em nota, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que decretou luto oficial de três dias, comentou a importância do cineasta para o cinema brasileiro. "O professor Vladimir de Carvalho dedicou sua arte para denunciar injustiças e dar voz aos desassistidos numa época de censura e de perseguição política. Contribuiu para mudar a linguagem cinematográfica brasileira, formou uma geração de aguerridos cineastas, levou e enobreceu o nome de Brasília no cenário cultural internacional. Que Deus receba seu espírito e conforte os familiares e amigos", afirmou.
O governador da Paraíba, João Azevêdo, também lamentou a morte do cineasta em uma de suas redes sociais: “Que nesse momento de tristeza e luto haja paz, conforto, coragem e amor entre familiares e amigos”, disse.
A Universidade de Brasília e o Ministério da Cultura também emitiram nota de pesar. “Que todos nós encontremos conforto neste momento difícil, mas também inspiração na obra e na trajetória de Vladimir Carvalho, um admirável defensor do cinema brasileiro, da democracia e da Universidade de Brasília”, disse a reitora da universidade, Márcia Abrahão.
“O Ministério da Cultura recebeu com pesar a notícia da morte do cineasta Vladimir Carvalho – um dos mais importantes documentaristas do país. Sua obra, voltada à celebração da cultura e da identidade nacional, foi marcada por fortes crenças sociais e se transformaram em uma nova linguagem para o audiovisual brasileiro”, declarou a pasta.
Todo o patrimônio e acervo do documentarista paraibano foi doado, em vida, à Universidade de Brasília (UNB).
Mais informações na reportagem de Joana Côrtes, no áudio abaixo.
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